quarta-feira, 22 de setembro de 2021

PAI NOSSO DOS EXCLUÍDOS

PAI NOSSO DOS EXCLUÍDOS

24 Despertado Noé do seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço

25 e disse:

     Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos.

Gênesis de Moisés, cap. 9:24 e 25.




Noé e seus filhos

 

Pai Nosso,

Só porque sou preto

A sociedade dá um jeito

De me excluir,

Impedindo-me de construir

O meu glorioso Destino,

Pois nega-me uma boa faculdade

E sempre um bom emprego,

Colocando-me ao degredo

Em meu próprio país.

 

Pai Nosso,

Sou branco e pobre

E, por isso, toda raça dita nobre,

Olha-me de banda

E me excluí

Com toda a ingratidão

Lançando-me ao chão

Da terrível rejeição.

 

“Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

João da Cruz e Sousa (1861-1898).

Poeta brasileiro.

 

É isso mesmo!

Há quem se ache de fina estirpe

E eu não sei porquê,

Pois foi feito

Do mesmo jeito

Que o mineral, o vegetal,

E toda espécie de animal:

Do pó do chão

Que constrói o seu casarão

E permite que chegue à mesa

O seu necessário pão.

 

Pai Nosso,

Essa sociedade jaz

Num mundo que faz

Divisão de esquerda e direita.

 

É muito esnobe

E acha que tudo pode,

Olvidando que todo bem

Que no banco tem

Não levará para o Além.

 

Essa sociedade é injusta,

E ainda disputa

Um lugar ao sol;

Inventando preconceito

Onde pela Constituição

Todos têm o mesmo Direito

Quando cumprem bem o Dever.

 

Esquece que não está mais

Naquela época de Noé

Que abençoou Sem e Jafé

E amaldiçoou Cam.

 

26 E ajuntou:

     Bendito seja o SENHOR,

     Deus de Sem; e Canaã lhe seja servo.

27 Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo.

Gênesis de Moisés, cap. 9:26 e 27.




Sem, Cam e Jafé

 

Pai Nosso,

Isso é um absurdo

Neste Novo Mundo

Do terceiro milênio,

Onde o principal prêmio

É a prática das boas ações.

 

É uma aberração

O tal preconceito

Racial ou social,

Pois todos são filhos

Do DEUS Universal.

 

“Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa,
soluçando nas trevas, entre as grades
do calabouço olhando imensidades,
mares, estrelas, tardes, natureza.



João da Cruz e Sousa (1861-1898).

Poeta brasileiro.