PAI NOSSO DOS EXCLUÍDOS
24
Despertado Noé do seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço
25
e disse:
Maldito seja Canaã; seja servo dos servos
a seus irmãos.
Gênesis
de Moisés, cap. 9:24 e 25.
Noé e seus filhos
Pai
Nosso,
Só
porque sou preto
A
sociedade dá um jeito
De
me excluir,
Impedindo-me
de construir
O
meu glorioso Destino,
Pois
nega-me uma boa faculdade
E
sempre um bom emprego,
Colocando-me
ao degredo
Em
meu próprio país.
Pai
Nosso,
Sou
branco e pobre
E,
por isso, toda raça dita nobre,
Olha-me
de banda
E
me excluí
Com
toda a ingratidão
Lançando-me
ao chão
Da
terrível rejeição.
“Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.”
João da Cruz e Sousa (1861-1898).
Poeta brasileiro.
É
isso mesmo!
Há
quem se ache de fina estirpe
E
eu não sei porquê,
Pois
foi feito
Do
mesmo jeito
Que
o mineral, o vegetal,
E
toda espécie de animal:
Do
pó do chão
Que
constrói o seu casarão
E
permite que chegue à mesa
O
seu necessário pão.
Pai
Nosso,
Essa
sociedade jaz
Num
mundo que faz
Divisão
de esquerda e direita.
É
muito esnobe
E
acha que tudo pode,
Olvidando
que todo bem
Que
no banco tem
Não
levará para o Além.
Essa
sociedade é injusta,
E
ainda disputa
Um
lugar ao sol;
Inventando
preconceito
Onde
pela Constituição
Todos
têm o mesmo Direito
Quando
cumprem bem o Dever.
Esquece
que não está mais
Naquela
época de Noé
Que
abençoou Sem e Jafé
E
amaldiçoou Cam.
26
E ajuntou:
Bendito seja o SENHOR,
Deus de Sem; e Canaã lhe seja servo.
27
Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo.
Gênesis
de Moisés, cap. 9:26 e 27.
Sem, Cam e Jafé
Pai
Nosso,
Isso
é um absurdo
Neste
Novo Mundo
Do
terceiro milênio,
Onde
o principal prêmio
É
a prática das boas ações.
É
uma aberração
O
tal preconceito
Racial
ou social,
Pois
todos são filhos
Do
DEUS Universal.
“Ah! Toda a Alma num cárcere anda presa,
soluçando nas trevas, entre as grades
do calabouço olhando imensidades,
mares, estrelas, tardes, natureza.”
João da Cruz e Sousa (1861-1898).
Poeta brasileiro.