CONVERSAÇÃO DOS SENTIDOS
8
Traze o povo que, ainda que tem olhos, é cego e surdo, ainda que tem ouvidos.
Livro
do Profeta Isaías, cap. 43:8.
Isaías.
Escritor,
pregador e profeta de DEUS
Obra
de Antônio Francisco Lisboa (1738-1814).
Pintor,
escultor e entalhador brasileiro.
Disse
um Olho:
Eu
vejo muito bem
As
sementes que alguém
Semeou
pelo campo
Para
produzir flores e frutos,
Árvores
e arbustos.
“Quando você estiver triste, olhe mais uma
vez para dentro do seu coração e você vai descobrir que, na verdade, você está
chorando por aquilo que tem sido sua alegria.”
Khalil Gibran
(1883-1931).
Disse
outro Olho:
Eu
tenho a visão
De
toda a imensidão
Onde
o Produtor Divino,
Colocou
cabras e bovinos,
Galinhas,
cavalos e suínos.
Disse
outro Olho arguto:
Eu
olho para o céu
E
vejo os passarinhos
Que
constroem na terra os ninhos,
Mas
voam pelo espaço.
Outro
Olho porém,
Disse
ver aquém
Os
imensos montes
Que
em todos os instante
Parecem
servos vigilantes.
“Deve existir algo estranhamente
sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar...”
Khalil Gibran
(1883-1931).
Vejo
também as montanhas
Alegres
e risonhas,
Que
circundam a Terra
Protegendo
a sua esfera.
Vejo
planícies e planaltos,
Que
estão de fato
Servindo
de asfalto
Onde
todos pisam.
Um
Olho vê o abismo
Que
está contíguo,
Mas
ninguém o vê.
“Este abismo existe porque há algo de errado comigo.”
Khalil Gibran
(1883-1931).
Mas
um outro Olho falou:
Eu
vejo o capim
Que
se espalha enfim
Por
toda a campina.
Porém,
um Olho nada viu
E
debochadamente insistiu
Que
os outros estavam tendo visões...
"Há qualquer
coisa errada com o Olho.”
Khalil Gibran
(1883-1931).
Cada
um só pode ver
O
que pode conceber
O
seu Sentido.
“A beleza não está na cara; a beleza
é uma luz no coração.”
Khalil Gibran
(1883-1931).
Agora,
inibido,
Disse
um Ouvido
Ter
ouvido
Alguma
coisa.
Outro
Ouvido
Por
demais audaz
Ficou
em paz
Para
poder escutar
O
que alguém estava a falar.
Outro
Ouvido,
Deveras
atrevido
Ficou
distraído
E
do papo não participou.
Outro
Ouvido disse:
Eu
nada ouvi
E
até concluí
Que
a acústica não é boa.
Um
Nariz sentiu o perfume
Que
saía do lume
De
uma fogueira.
Disse
outro Nariz:
É
sândalo que está sendo queimado
E
mantém perfumado
Todo
o ambiente.
Outro
Nariz assumiu
Que
também sentiu
Um
perfume maravilhoso.
Outro
Nariz disse nada sentir
E
que estava ali
Bem
mais perto.
“Tu és cego e eu sou surdo mudo, toquemo-nos
com as mãos e compreendamo-nos.”
Khalil Gibran
(1883-1931).
A Mão
quis tocar o cheiro,
O
Pé quis pisá-lo,
O
Olho quis vê-lo,
O
Ouvido ouvi-lo,
Mas
somente o Nariz
Teve
a condição
Para
tal apreciação.
Uma
Boca elevou a voz
E
cantou uma melodia
Agradecendo
o dia
E a
presença do sol.
“Uma voz não pode transportar a língua e os
lábios que lhe deram asas. Deve elevar-se sozinha no éter.”
Khalil Gibran
(1883-1931).
Uma
Boca,
Bate
um papo com a outra:
Eu
senti um paladar.
Mas
a outra não sentiu,
Pois
não estava a degustar
A mesma
coisa.
Abriu-se
uma Bocarra
Cheia
de marra;
Tudo
provou
E
comprovou
O
Poder do Paladar.
Isto
confirma que cada Sentido
Está
em sua dimensão
E
só nela tem noção
Dos
acontecimentos.
“Somente o esquecimento é um abismo que nem a voz nem o olho podem atravessar.”
Khalil Gibran
(1883-1931).
Escritor e
poeta libanês.